terça-feira, 8 de junho de 2010

Política inclusiva e ingresso facilitado: UNIVERSIDADE para todos?

Há cerca de seis anos, um estudo do Núcleo de Apoio a Estudos de Graduação da USP mostrava um interessante aspecto da educação superior brasileira. Não obstante quaisquer generalizações e deduções apressadas, impressionam os dados revelados. Em 2004, ingressaram na Universidade de São Paulo mais moradores de uma única rua (Bela Cintra, na região dos Jardins) do que a soma de 74 bairros da zona Sul da cidade. A pesquisa ia mais adiante: nos dez anos anteriores, bairros que concetravam apenas 19,5% da população preencheram 70,3% das vagas para ingressantes na instituição.

Recentemente, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro divulgou os resultados de um primeiro estudo sobre seu sistema de ações afirmativas, pioneiro no Brasil. Os dados também são reveladores em alguns aspectos: o principal deles está relacionado à forma como os estudantes beneficiados pela política de cotas valorizam a oportunidade de ingressar numa Instituição de Ensino Superior. O estudo levanta aspectos positivos e negativos do processo, mas ajuda a elucidar que o grau de desempenho acadêmico não depende diretamente da forma como se ingressa no sistema.

Não foram poucas as vezes que ouvi professores expressando seu compromisso com o ensino apenas para os "melhores alunos". O princípio que fundamenta esse comportamento é o de que a universidade não é mesmo para todos; só para os mais bem preparados. Os dados de 2004 e os divulgados recentemente têm objetos distintos mas resultados semelhantes em termos de análise. Os mais preparados para enfrentar os processos seletivos da elite educacional são também de uma elite social e isso não parece novidade. O que há de novo no processo é a perspectiva de mudança quanto à visão preconceituosa a respeito dos estudantes beneficiados por políticas inclusivas.

Nas universidades privadas, com ou sem fins lucrativos, o processo de seleção para a maioria dos cursos não exige mais empenho significativo. Há vagas sobrando; portanto, o vestibular não mais expressa o acesso para os mais bem preparados. Decorre daí a interpretação generalizada de que a "mercantilização" do ingresso via processos seletivos menos rigorosos beneficiam estudantes desinteressados e incapazes de ingressar nas "melhores escolas". Política inclusiva e ingresso facilitado sofrem o mesmo tipo de menosprezo: não condizem com a tradição elitizada do sistema de ensino superior.

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