domingo, 6 de junho de 2010

UM debate sobre a UNIVERSIDADE

Saberes universais x conhceimentos instrumentais [Luciano Bitencourt]

Há alguns meses não estabeleço conexões na rede de ideias deste blog. As justificativas são inúmeras, mas nenhuma boa o bastante. A questão é que sempre existe o tempo das reflexões; aquelas profundas, que redirecionam o fazer cotidiano e as projeções para a vida. Mergulhado em pesquisa e avaliação sobre educação superior no Brasil, não dei a atenção que gostaria para o espaço de registro desta experimentação em enunciados. O sentido de temporalidade no contexto que descrevo é nada cartesiano e cronológico. Diria que tive de dar um tempo pedagógico para a consolidação de meus argumentos. E é nesse tempo que recomeço minha compilação de curiosidades.

Na universidade em que trabalho estão em debate questões de fundo quanto à reforma de suas estruturas acadêmico-administrativas. E assim estão também as universidades brasileiras, envolvidas num desafio tanto mais difícil quanto mais se aprofunda nele. Importa nesta retomada reflexiva fazer algumas ponderações a respeito dos fundamentos. Primeiro, a própria ideia de universidade: seja pelos aspectos legais ou conceituais, uma universidade se destingue de outras instituições do ensino superior por oferecer formação em graduação e pós-graduação com desenvolvimento de pesquisa e atividades de extensão. E esta assertiva diz pouco.

Milenar enquanto instituição, a universidade contemporânea é uma organização que vive profunda crise, sedimentada no tipo de resonsabilidade social que assume. Enquanto instituição nasceu para cultivar os saberes universais, aqueles que dão à aventura humana um significado e uma trajetória preocupada com o patrimônio cultural de sua existência. Atualmente contudo, ao ensino superior recaem também as responsabilidades pelo conhecimento instrumental, aplicado a técnicas de ocupação em lugares definidos por uma estrutura de base econômica, pouco ou quase nada afetada por políticas sociais de desenvolvimento.

Foi com a sociedade industrial que a instituição universidade assumiu o compromisso de desenvolvimento científico e tecnológico; e enquanto organização segmentou os critérios de formação sociocultural, mais relacionada aos saberes universais, e os de formação sociotécnica, focada nos conhecimentos instrumentais. As concepções que alimentam o debate ainda estão atadas à estrutura de carreira acadêmica e seus processos avaliativos que constituem uma espécie de corporação e à estrutura de mercado desconsiderada em suas dimensões culturais e historicamente construídas.

Aprofundar estas questões torna-se fundamental para uma reconfiguração da universidade, seja instituição ou organização. Respeitando as temporalidades subjetivas que caracterizam a vida atual, passaremos a discutir os aspectos centrais desta temática. Não há aqui pretensões didáticas. O propósito é a construção de um enunciado experimental, como argumenta Isabelle Stengers, propondo os pontos de conexão possíveis para uma outra percepção quanto ao que chamamos de educação superior. Ao mesmo tempo, traremos materiais que a rede (a social e a prótese técnica) já nos disponibilizam.

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