sábado, 19 de setembro de 2009

Jornalismo e democracia, linguagem e poder, novas diretrizes e velhos paradigmas


Vem a calhar o Relatório da Comissão de Especialistas instituída pelo Ministério da Educação que propõe novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo. Ele dá materialidade para os temas que temos desenvolvido aqui. Enfatize-se a importância do processo que procurou "democratizar" o debate e ouvir os "anseios" das "entidades sindicais e acadêmicas", ainda que só as "defensoras do ensino de qualidade". E é por aí que começo minha reflexão: o preâmbulo do texto da comissão é a maior evidência de que estamos construindo lugares êmicos no contexto do jornalismo. É como uma defesa: contestar a proposta apresentada é posicionamento idêntico ao de não defender o "ensino de qualidade" e, por consequência, estar fora.

Como novas exigências sociais, o documento aponta a necessidade de ênfase formativa no "domínio das técnicas e artes da narração quanto (...) da lógica e das teorias da argumentação". Isso porque o jornalismo hoje "faz parte da atualidade, e a serve, como linguagem macro-interlocutória socialmente eficaz". Em suma, a salvaguarda do direito de expressão livre como voz da sociedade mantém-se assegurada pelo poder de mediação agora não mais entre esferas sociais, mas entre os discursos que as representam. Uma grande sacada para manter o status quo profissional, sobretudo quando está em cheque o lugar de ocupação do jornalismo na sociedade. O ato de mediar discursos ainda garante-se por intermédio de um discurso, esse sim, esclarecedor sobre o mundo. E a qualidade está na "consciência cívico-moral" que opera esses produtos discursivos.

A trajetória do jornalismo na "comunicação social" confunde-se com seu desajustamento na área de conhecimento denominada de "comunicação". De fato, áreas de conhecimento e campos de atuação profissional configuram-se por lugares distintos quanto aos saberes a eles relacionados e seus espaços articulam-se por uma série de habilidades ora similares ora complementares. A comunicação não se explica enquanto objeto; o jornalismo talvez sim. Isso porque o segundo está inscrito como atividade que se quer formal na contemporaneidade. Aliás, tal atividade só existe nessa condição. Para não se pulverizar no contexto da comunicação enquanto área, o jornalismo precisa cravar-se existencialmente como atividade mediadora necessária.

Cientistas sociais divergem sobre essa questão. Não por acaso; territórios epistemológicos foram demarcados ao longo de um debate antropoêmico que confunde a "comunicação social" enquanto campo de atuação e a "comunicação" enquanto área de conhecimento. Na mesma medida em que se quer formal enquanto profissão, o jornalismo se quer formal nos catálogos acadêmicos, reconhecido como forma de conhecimento que "qualifica" o senso comum. Formalizado ou não, o jornalismo continua distante de ser um exercício intelectual de interpretação do mundo.

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