quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Diretrizes curriculares: por uma economia da cultura jornalística

Sexta-feira (08/10) nova audiência pública deu continuidade ao debate sobre as diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo propostas por uma comissão de especialistas em documento entregue ao Ministério da Educação há cerca de um ano. Uma suspeita continua em aberto: o Jornalismo não tem pensado a economia de sua própria cultura. As referências expostas no documento não representam avanço em termos de itinerários formativos nem ocupacionais; reproduzem os ideários curriculares das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e reforçam lugares de ocupação pouco flexíveis enquanto campo de atuação.

O que é pensar a economia de sua própria cultura? É importante salientar que a formação em Jornalismo sugere a necessidade de reflexão sobre novos modelos de produção e canais de mercado. A tradição curricular orienta itinerários que reconhecem lugares de ocupação dados a priori; quando muito, institui o empreendedorismo como atenuante para uma formação que se proponha autônoma em termos salariais. Outro aspecto tido como significativo para o salto qualitativo na formação diz respeito à preparação para a convergência de mídias e seus impactos técnico-tecnológicos. Os currículos mais "avançados" não se alicerçam mais sobre os meios impressos. É pouco! Quase nada, falando sinceramente.

Ora, os argumentos não são ruins; o problema reside na própria ideia de reforma. Como transformar contextos se as bases que delineiam as fronteiras ainda reconhecidas como legítimas não se abrem aos movimentos em sociedade? O ensino superior brasileiro conforma-se como excessivamente conteudista, trata a pesquisa fora dos processos de aprendizagem e não ocupa um lugar de protagonismo no desenvolvimento de propostas que aproximem as pessoas de uma vida sustentável para todos. Se o Jornalismo é uma “forma” de conhecimento, como reconhece o relatório da comissão de especialistas, cultivá-lo só tem sentido quando seus saberes confundem-se com os saberes cotidianos.

Enquanto documentos de identidade, os currículos de Jornalismo ainda tratam formas de conhecimento como formas de esclarecimento. Ao propor o “manejo competente das habilidades pedagógicas na prestação de serviço público”, as novas diretrizes em debate não superam a visão burguesa de Jornalismo como instrumento “para que os cidadãos possam tomar decisões conscientes e responsáveis” (p.6). Sendo assim, para que não haja tutela do poder instituído sobre a vida dos cidadãos, o Jornalismo precisa tutelá-los na esfera do contrapoder denominado “espaço público”.

Para pensar uma economia da cultura jornalística, não tratemos as diretrizes como equívocos. Elas não o são. Na verdade, são escolhas. E escolhas sustentadas pelo senso comum do movimento educacional brasileiro, alinhado com certas visões corporativas do mundo do trabalho. Nas ideias aqui expostas está o entendimento de que o lugar de ocupação para o Jornalismo na sociedade contemporânea pede novos espaçamentos cognitivos, estéticos e ético-morais no processo de formação de seus "atores"; e isso exige a relativização das fronteiras que designam os lugares de ocupação na estrutura das instituições de ensino e no mercado de trabalho. Ou por outra, tais fronteiras são o espaço em que se inscrevem os itinerários formativos.

Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Jornalismo

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