quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Siqueira na ALESC: impressões sobre o não dito

Palestra interessante a do jornalista Ethevaldo Siqueira. Trouxe informações em quantidade suficiente para fazer pensar. Em outras palavras, impressionou mais pelo que não disse. Vejamos: com a quinta maior rede mundial de celulares, o Brasil tem mais aparelhos que gente; jornal de papel e TV de sinal aberto vão desaparecer; em 2006 o mundo produziu em informação o equivalente a 3 milhões de vezes todos os livros já escritos; e por aí vai. São dados de fazer queixo cair.

Microeletrônica, nanotecnologia, biotecnologia... o premiado jornalista, autor de 10 livros sobre os avanços da tecnologia, procurou contextualizar seus argumentos com números significativos. O tema, a propósito, bastante oportuno: "o papel da mídia na sociedade do conhecimento". Público diversificado, atento, mas não muito grande na Assembléia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis, numa terça-feira (11) de proposições sobre possibilidades de cooperação entre entidades que representam a imprensa, a produção tecnológica, instituições de ensino superior e o Estado.

Qual é, afinal, o papel da mídia nesse "admirável mundo novo"? Tudo em rede, móvel e acessível. Ao mesmo tempo, tudo sem a necessidade de grandes deslocamentos. Espaço alargado, tempo reduzido. Ambiente ideal para o fim de mediações humanas desnecessárias (como a do jornalismo?). Nada de papel; os jornais do futuro serão politicamente corretos com o meio ambiente. Nada de defesa de questões político-ideológicas; os jornalistas do futuro serão politicamente corretos com os modelos de negócio que sustentam a esfera privada, essa mais viva do que nunca.

Faltou dizer o que é conhecimento nessa outra sociedade. Não por esquecimento, claro. É que o conhecimento em pauta está dado, naturalizado pela ideia de que só ele pode suplantar a esquizofrenia provocada pelo excessivo número de informações em disponibilidade. Selecioná-las, organizá-las, eis a tarefa árdua ali adiante (também do jornalismo). Faltou dizer, porque não foi preciso, que o conhecimento em pauta se caracteriza pela obsolescência do sempre novo, não constitui memória nem cria laços. É como se o mundo, outrora objeto de exercício intelectual, já tivesse interpretações suficientes a seu respeito; como se tudo já tivesse sido dito.

Talvez por isso alguns colegas tenham interpretado "o papel da mídia" como jornal impresso. Ethevaldo esforçou-se para avançar. Era essa a proposta: evidenciar os dados para o debate. Não foi alcançado. Pelo excesso de tempo nas preliminares e pelo orgasmo precoce de quem insiste em reduzir mídia e jornalismo a formas expressivas e a produtos discursivos. O jornal de papel tem seus dias contados, na visão de Ethevaldo; o jornalismo não. Para alguns colegas, contudo, o papel do jornalismo continua impresso no papel-jornal; seu lugar de ocupação na sociedade só se consolida pelo produto midiático inscrito na tradição.

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